Vale
a pena gastar tempo ajudando os outros, num ambiente tão frequentemente
agressivo, competitivo e excludente como o mercado de trabalho? Tem sentido
compartilhar com os outros recursos tão escassos e valiosos na vida
profissional, como ideias, conhecimento, atenção, contatos, crédito e
oportunidades? Não seria mais esperto tentar obter mais desses recursos e
guardá-los para si?
Uma resposta
surpreendente a essas dúvidas vem sendo oferecida pelo americano Adam Grant,
Ph.D. em psicologia e professor na escola de negócios da Universidade da
Pensilvânia. Ele afirma que a atitude generosa na vida profissional é a que
oferece resultados mais extremos – por isso, se colocada em prática da maneira
certa, é a mais indicada para quem quer o máximo de satisfação profissional (entenda-se aqui satisfação como conseguir o
que se deseja não necessariamente o salário mais alto).
“Entre vendedores,
engenheiros, médicos, os mais inclinados a ajudar os outros são também os que
têm maior chance de falhar dramaticamente ou atingir enorme sucesso. Então, a
questão a responder é: o que fazem os
generosos que chegam ao topo?”, diz Grant. “O mais eficiente é ser altruísta, mas de maneira que não sacrifique
nossos próprios objetivos e ambições”.
O pesquisador imagina
um espectro com diferentes comportamentos em relação a dar e receber recursos
valiosos no trabalho, como ideias e contatos. O profissional que compartilha
sem esperar nenhum pagamento ou vantagem imediata com isso. No outro extremo,
situa-se o fominha, devorador de recursos, o profissional agressivo que tenta
doar o mínimo possível e extrair dos outros o máximo de vantagens. Entre os
dois extremos, espalha-se a maioria das pessoas.
O senso comum diria que a ponta do espectro ocupada pelos fominhas agrupa
também os mais bem-sucedidos, os gênios solitários e os fora de série. Afinal,
o sujeito agressivo e ambicioso, quando mostra também competência, viraria um
tipo de pistoleiro de sua área, capaz de infundir admiração entre os chefes e
terror no coração dos oponentes. O senso comum diria também que o povo na
metade mais generosa da régua, embora seja o mais agradável de conviver, não
consegue resultados impressionantes. Essa turma do meio-termo seria bem
representada por aquele colega simpaticão, benquisto por todos, que não é
demitido mas tampouco brilha pelo desempenho. Grant discorda dessas crenças e
oferece pesquisas para confrontá-las.
“O comportamento predominante no mercado de trabalho não é
fominha nem generoso, e sim o intermediário – o profissional que tenta ser
justo, mas desconfia de quem não conhece e se preocupa principalmente em não
fazer papel de otário”.
Essa
forma de agir segue a regra do toma lá dá cá, ou seja, oferece um favor e quer
receber outro em troca. Trata-se de um padrão de comportamento de baixo risco,
que também oferece baixo retorno. O profissional desse tipo dificilmente
brilhará ou fracassará pela forma como interage com outros. Grant reconhece que
a ponta da régua ocupada por fominhas inclui, sim, gente que se dá bem, mas não
abriga a maior parte dos extraordinários. Isso porque o comportamento agressivo não seria a estratégia profissional mais
ousada. O mais surpreendente, na proposta de Grant, é sua visão radical da
generosidade. Ele acredita que os doadores contumazes de recursos seguem a mais
arriscada de todas as estratégias. Por seguirem um comportamento de alto risco,
obtêm resultados extremos de fracasso e sucesso.
Do
ponto de vista da maioria das organizações, é ótimo que os funcionários sejam
ambiciosos e, ao mesmo tempo, generosos uns com os outros. Os indivíduos mais
influentes, mesmo sem autoridade formal, são os que têm objetivos claros,
conhecem os recursos de que dispõem e sabem oferecer esses recursos aos outros
quando necessário – apenas outra forma de descrever o generoso bem-sucedido de
Grant.
Ao
se apresentar ao mercado, os profissionais hesitam em descrever-se como
generosos e bons de trabalhar em equipe. A maioria ainda crê que é melhor
negócio passar a imagem de pistoleiro solitário. Entre as palavras e expressões
mais usadas pelos profissionais brasileiros para se descrever em 2013 na rede
social LinkedIn, dedicada a contatos de trabalho, encontram-se “responsável”,
“estratégico”, “criativo”, “inovador”, “competitivo” e a esquisita “organizacional”
– nenhuma que tenha claramente a ver com a habilidade de doar-se ao grupo. Nos
Estados Unidos com alto desemprego, nota-se um empenho do profissional em
mostrar-se apto para tipos variados de vagas – o americano se descreve como
“adaptável”, “em aprendizado contínuo” e “flexível”. Um segundo grupo de
palavras e expressões preferidas no ano passado inclui “ambicioso”,
“competitivo” e “altamente competitivo”. Nada que sugira valorização da
generosidade.
Nem
é preciso recorrer a esse ceticismo saudável para entender o fracasso de grande
parte dos generosos. Quem se doa de forma caótica perde o rumo e a
concentração, ao atender a pedidos de favores aleatórios (“Você pode me ajudar
a revisar estes números, por favor?”). Ao dividir sua atenção e seus esforços,
o doador passa a ser visto como gentil, um auxiliador trivial sempre à
disposição, e não como um especialista a consultar em momentos decisivos. Pior:
o desprendimento tende a atrair fominhas. Eles sentem de longe o cheiro da
vantagem fácil e aproximam-se para arrancar favores. No fim do massacre, o
generoso esgotado afunda, sem ter conseguido fazer o que gostaria. Esse não é,
porém, um destino inescapável para o generoso. Grant descreve vários caminhos
pelos quais um doador organizado pode chegar aos níveis mais altos de sucesso e
satisfação profissional.
“O primeiro passo do generoso bem-sucedido é perceber que não
conseguirá ajudar a todos, com todos os pedidos, o tempo todo”, diz. “Ele
reflete sobre quem, como e quando ajudar.”
Ao escolher bem como doar e para quem, o
generoso organizado consolida a imagem de profundo conhecedor de um tema ou
craque na superação de um tipo de desafio. Com o tempo, essa imagem transpõe os
limites do trabalho atual – o generoso é beneficiário direto da atual fluidez
da informação (enquanto o fominha é prejudicado por ela). Quanto mais regular
for à doação, mais o generoso se obrigará a ser produtivo, concentrado e conhecedor
do que fala.
O doador eficiente forma a seu redor uma rede
firme de contatos e aliados – gente disposta a retribuir favores, a passar
favores adiante e que torce por seu sucesso. Quem é generoso com os outros
ajuda a si próprio. Enquanto outros chefes preocupam-se em identificar jovens
promissores para depois atraí-los, o generoso vê em cada novato uma
promessa e investe nele. Isso aumenta enormemente as possibilidades de
que esse novato se torne muito competente. No fim das contas, é mais produtivo
semear talento a seu redor do que tentar importá-lo.
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